Há 25 anos fui ordenado sacerdote. Muitas experiências pastorais e relacionais contribuíram para que eu pudesse me entregar plenamente ao serviço do Reino de Deus, na Arquidiocese de Belo Horizonte. No primeiro momento, a dúvida se mesclava com a vontade e algo, que não sei explicar, a não ser pelo dado da fé, me impulsionava à continuidade. E eis que, o que naquele tempo poderia ser duvidoso, ou temporário, se transformou em caminho que se fez, na medida em que me dispus a caminhar.
Aprendi, desde sempre, que o futuro não nos pertence, por isso, sempre procurei viver intensamente o meu presente, como graça e ternura de Deus. Talvez seja por isso que cheguei até aqui. A dúvida ainda existe. A insegurança persiste. O que me conforta é saber que sou apenas um semeador. Semeio sementes. Às vezes dou conta de regar o que semeio, mas é Deus quem faz com que as sementes germinem no coração de quem foram semeadas.
Lá se foram 25 anos! Mais uma vez, constato quão efêmera é a vida e como o tempo passa depressa. Nesse tempo pude experimentar, além da dúvida e da insegurança já citadas, momentos de alegria e tristeza, de muito trabalho, de decepção, de agradecimento, de perda de pessoas amadas, pelas quais senti a dor da partida e chorei. Convivi com a miséria e com a fome, com a falta de perspectiva e com o tráfico de drogas. Visitei presídios, enfrentei a polícia, ungi moribundos, encomendei defuntos, vi enterros que não existiam, andei no sol e na chuva, dividi um banco na porta da Santa Casa, com um morador de rua, numa noite chuvosa de sábado, ensinei mães a darem de mamar a seus filhos, lutei pela dignidade de muitos pobres, numa favela que se chamava São José. Construí Creches para acolher os filhos de Deus e não tive e não tenho vergonha de pedir esmolas para alimentar esses pequeninos. Pude ser presença que conforta corações abatidos pela perda de entes queridos. Pude ser palavra que inspira e aponta novos caminhos e, também, presença silenciosa que não precisou de muitas palavras para resgatar a fé e a esperança em corações abatidos. Ensinei em escolas e universidades. Fui traído por quem muito amei. Morri em cada anoitecer, para nascer de novo na manhã de um novo dia. A solidão, muitas e muitas vezes foi minha companhia. E Deus se fez ouvir e me carregou nos braços quando minha fraqueza quis falar mais alto. Investi meu tempo, também, em estudos, para poder proclamar, com embasamento bíblico, teológico, filosófico, jornalístico, histórico e social o reinado de paz e de justiça dispensado a todos, sem distinção.
As experiências foram muitas. O caminho às vezes árduo e noutras prazeroso, não terminou. Em cada amanhecer é um recomeço e eu rezo a Deus para que seja minha luz e guia. O momento é de celebrar e ouvir de Deus, como Ele disse ao Profeta Elias: “levanta-te, coma e beba, pois ainda tens um longo caminho a percorrer” (…)
Concluindo, para não me alongar tanto, não mencionei os meus momentos de oração, de celebrações, de eventos comunitários, sociais e religiosos, as semanas santas, os natais, as festas de padroeiros etc., por entender que nada do que vivenciei teria sentido se não houvesse tudo isso, já que a busca espiritual, pessoal e comunitária, é que alimenta todas as experiências obtidas. O que me sustenta é o que me inspirou no princípio, a proclamação do Apóstolo Paulo: “Sei em quem acreditei”.
Agradeço a todos com os quais me encontrei nesse caminho. Agradeço a Deus, a Arquidiocese de Belo Horizonte e à minha família pela presença, confiança e força durante todo esse tempo.
Como São Francisco, que na hora de sua morte falou aos seus irmãos, eu também repito agora: “vamos começar tudo de novo, porque até agora não fizemos nada”.
Muito obrigado.
Pe. Carlos Henrique Corrêa Senna
Tão pouco tempo.mas posso dizer que tenho uma sensação de te conhecer a muito tempo. Nas palavras conversa,Que muitos não entendem, pois as vezes queremos ouvir o que queremos não o que precisamos.So posso agradecer a Deus pela oportunidade de conhecê-lo e ter você com gente.Que Deus guie teus passos ilumine sua vida.Nas minhas incertezas,costumo dizer assim .Até aqui o senhor me ajudou….