Relato de um Peregrino na terra de Jesus

Mais uma vez, Deus me concedeu a graça de visitar a Terra Santa. Emocionante para mim, seu simples e indigno servo. Tive o privilégio de ter como companheiras 22 pessoas que, comigo, experimentaram momentos de luz, de paz e de bênçãos em suas vidas. A todos meu muito obrigado. Nos relatos, se me esqueci de alguma coisa, por favor me perdoem. Fica este relato como memória de tudo que vivenciamos nesses dias na terra que Jesus pisou.

 

Primeiro dia.

 

Iniciamos nossa peregrinação na terra de Jesus, considerada pelos cristãos como “Terra Santa, pelo Mar da Galiléia. Fizemos um passeio de barco pelo Mar da Galiléia a partir de Tiberíades. O barco tinha o mesmo formato dos do tempo de Jesus. Foi hasteada a Bandeira Brasileira ao som do Hino Nacional e depois celebramos uma missa a bordo. Desembarcamos próximo à Cafarnaum. Durante a missa tivemos a oportunidade de nos apresentar, um a um, e ouvimos o início das histórias que tiveram sua continuidade nos outros 11 dias seguintes da nossa viagem.

 

O Mar da Galiléia (também chamado na Bíblia de Mar de Tiberíades) na verdade é um lago. Originalmente, ele possui água doce (assim como os outros lagos). Mas há alguns rios que derramam água salgada nos grandes lagos. No mar da Galiléia, a água salgada dos rios é desviada pelo governo, para que a água do mar, que em sua natureza é doce, possa servir para a população, por causa da escassez de água na região. O mar da Galiléia foi cenário de grandes feitos de Jesus. Foi às suas margens que Jesus chamou vários de seus discípulos. Conforme nos narra Mateus no capítulo 4 versículos de 18 a 22.  Jesus caminha sobre as águas e Pedro tenta, conforme Mateus 14, versículos 22 a 33. Jesus acalma a tempestade e o mar, conforme Mateus capítulo 8 versículos 23 a 27. Em resumo, à beira do mar da Galiléia Jesus passou grande parte de sua vida e realizou inúmeros milagres à vista de seus discípulos. É bom lembrarmo-nos da música “A Barca” e entenderemos a disponibilidade dos discípulos.

 

Desembarcamos e fomos para a Igreja dedicada ao Primado de Pedro.  Foi mais um momento de espiritualidade onde todos nos sentamos pudemos contemplar a pedra na qual Jesus teria assado os peixes para os discípulos. Lemos o evangelho de São João, Cap. 21. Na verdade, tive dúvidas quanto ao primado de Pedro ter sido ali, já que Mateus narra o primado de Pedro no capítulo 16, versículos de 13 a 20, no território de Cesaréia de Felipe. Nesse local, conforme nos narra o evangelista João no Capítulo 21, versículos de 1 a 25, Jesus ressuscitado apareceu aos discípulos, ofereceu-lhes peixe assado, e fez com que Pedro declarasse o seu amor por três vezes, assim como o tinha negado três vezes. E, em sinal de seu amor, entregou-lhe o cuidado de suas ovelhas. Pode ser que nesse sentido seja entendido como o primado de Pedro.

 

Logo depois fomos para a Igreja que está aos cuidados das irmãs beneditinas, que é a Igreja da Multiplicação dos pães, narrada por Mateus, capítulo 14 versículos de 13 a 21 e  Marcos, capítulo 6, versículos de 30 a 44, Lucas, capítulo 9, versículos de 10 a 17 e, também, João capítulo 6, versículos de 1 a 15. Fato interessante é que Mateus narra uma segunda multiplicação de pães conforme capítulo 15, versículo 32 a 39. Nesse lugar rezamos um Pai Nosso de mãos dadas.

 

É bom observar que os evangelistas Mateus e Marcos colocam a multiplicação dos pães logo após a morte de João Batista. Por que ele escreveu nessa ordem? Foi para mostrar as ações dos poderosos que, em seus banquetes, servem cabeças de inocentes nas bandejas, em contraste com as ações de Jesus, que não faz distinção de pessoas e que concede a todos o alimento que dá a vida. Já no evangelho de João, a multiplicação dos pães  faz alusão à eucaristia onde Jesus se apresenta como o verdadeiro pão que dá a vida.

 

Em seguida fomos à Cafarnaum. Cidade onde Jesus morou após sair de Nazaré. Conforme nos narra Mateus capítulo 4 versículos 12 a 17. Visitamos as ruínas da sinagoga de Cafarnaum, a casa de Pedro, onde Jesus curou sua sogra, conforme nos narra Mateus no Capítulo 8, versículos 14 a 15. Vimos a Igreja em formato de barco (construída sobre a casa de Pedro). Sobre o julgamento final, Jesus falou a Cafarnaum, conforme nos narra Mateus, capítulo 11, versículos 23 e 24. Logo após visitamos as ruínas da sinagoga, onde, com certeza, Jesus e seus discípulos freqüentaram aos sábados.

 

Ao fim da tarde, rapidinho, devido ao pouco tempo, subimos o Monte Tabor. Em sua base, foi realizado o milagre da cura do epilético, narrada por Mateus capítulo 17, versículos de 14 a 21. No alto do Monte, encontramos uma igreja tripla, que simboliza as três tendas: uma de Jesus, outra de Moisés, e outra de Elias. Foi lá que aconteceu a transfiguração de Jesus diante dos discípulos Pedro, Thiago e João. A transfiguração é narrada por Mateus no Capítulo 17 versículos 1 a 9), por Marcos Capítulo 9 versículos 2 a 10) e, também por Lucas Capítulo 9 versículos 28 a 36).

 

Esses evangelistas precisavam ratificar para suas comunidades que Jesus era o Messias que o Povo de Israel esperava. Na narrativa da transfiguração quem atesta a filiação divina de Jesus é o próprio Deus. “Este é o meu filho amado, escutai-o”. Em João isso não acontece. Ao ler o evangelho de João, logo no primeiro capítulo pode-se ler: “No princípio era a palavra, a palavra era Deus… a palavra se fez carne e habitou entre nós”. Isso por que João escreveu para uma comunidade que já entendia que Jesus era Deus. O evangelho de João é muito diferente dos demais. Nele, em várias passagens, é mostrada uma sintonia plena entre Jesus e o Pai. Nele Jesus se apresenta como pão da vida e proclama a que veio: “Eu vim para que todos tenham vida”.

 

Voltamos à Tiberíades onde estávamos hospedados, no hotel Leonardo, e assim terminou nosso primeiro dia na terra de Jesus.

 

Segundo dia:

 

O segundo dia nos reservou, como o primeiro, muitas surpresas e possibilidade de um encontro com as raízes de nossa fé cristã. Saímos de Tiberíades e fomos para o Vale do Jordão. Chegamos ao Rio Jordão. Lá foi-nos proclamado o Evangelho de Mateus, Cap. 28, 16-20 e todos passamos pelas águas que foram derramadas sobre nossas cabeças.

 

O Rio Jordão é citado na Bíblia, não somente nos evangelhos, mas, também, podemos encontrar no Primeiro Testamento narrativas que reportam ao Rio Jordão, como no segundo livro dos Reis, Capítulo 5, versículos de 1 a 19, onde é narrada a cura de Naamã, pelo profeta Eliseu que o manda mergulhar por sete vezes nas águas do rio jordão. No Segundo Testamento o Rio Jordão é um lugar especial de João, o Batista, que prega um batismo de conversão. Ele batizava as pessoas para que elas, purificadas com as águas do rio, passassem a viver uma nova vida. João anunciava a proximidade do Reino de Deus. Sobre João Batista encontramos em Marcos capítulo 1, versículos de 2 a 8.  Parte de seus ensinamentos são narrados por Mateus, capítulo 3, versículos 1 a 12, por Lucas capítulo 3, versículos de 1 a 20. O batizado de Jesus é narrado por Mateus capítulo 3, versículos 13 a 17, por Marcos Capítulo 1, versículos de 9 a 11 e por Lucas no capítulo 3 versículos de 21 a 22.

 

Curiosidades: Depois do batismo de Jesus veio do céu uma voz que disse: “Este é o meu filho amado. No batismo e na transfiguração, Deus apresenta seu filho. Os evangelistas narram que o Espírito desceu como pomba. Não foi uma pomba que desceu. Mas o espírito de Deus desceu como pomba. Isto é, desceu suavemente sobre Jesus. Outra coisa, João não narra o batismo de Jesus. Em João, como escrevemos, Jesus já é o ungido de Deus.

 

Depois fomos para  Caná da Galiléia, visitamos a Igreja das bodas de Caná, onde Jesus transformou água em vinho. (Conforme Evangelho de São João Capítulo 2, versículos 1 – 12). Fizemos uma oração numa sala que fica no porão da Igreja. O lugar é todo muito rústico e contém uma “talha”, do tipo da usada por Jesus, ao transformar a água em vinho. Depois visitamos as ruínas da sinagoga onde aconteceu as bodas. Muitas pessoas jogam dinheiro lá. Será que é para pedir um bom casamento? Ou para que seu casamento seja bom? Não sei.

 

Seguimos à tarde para a Basílica da Anunciação. O Evangelista Lucas é o que mais nos encanta com as narrativas da infância de Jesus. Nele podemos ler, no capítulo 1, versículos de 26 a 38, o anúncio do anjo à Maria que ela seria a mãe de Jesus. Daí a Basílica da Anunciação. Há em seu interior, e nos seus arredores, mosaicos da imagem de Nossa Senhora de vários países. Há também, na parte exterior, a Salve Rainha e a oração do Ângelus em latim. No interior da Basílica, bem no altar mor, há um suposto lugar onde teria acontecido a anunciação do anjo à Maria. Próximo à basílica encontra-se o lugar que serviu para abrigar a carpintaria de São José. Ela fica embaixo de uma pequena igreja. Na Basílica da Anunciação o grupo parou e num momento de espiritualidade rezamos por todas as mães e cantamos próximos à Imagem de Nossa Senhora Aparecida: “Viva a mãe de Deus e nossa…”.

 

Curiosidade: Sempre em nossos presépios José é apresentado como um homem velho e Maria como uma jovem muito bonita. Até nas imagens de S. José, ele é sempre um velho. Nada disso. José era um jovem carpinteiro. Cheio de vida e alegria vivia com sua família em Nazaré. Nos evangelhos encontramos José acompanhando Maria até aos 12 anos de Jesus, quando eles o perderam no templo, conforme nos narra Lucas no capítulo 2, versículos 41 a 52. Depois não temos mais notícias de José. Os historiadores da época de Jesus atestam que muitos carpinteiros morriam jovens e a causa mortis era acidente de trabalho. Eles rolavam grandes toras para suas marcenarias e por acidente, às vezes, elas rolavam por cima deles. Pode ser que José tenha sido vítima de um acidente desses.

 

Visitamos a casa de Maria e José e o lugar que supostamente seria a marcenaria de José.

 

Naquele mesmo dia fomos almoçar em Jericó. Comida “mais ou menos”. O restaurante era loja, supermercado e tudo. Os funcionários falavam português. Tinha alguns que eram brasileiros. Lá aproveitamos para comprar vários produtos do mar morto.

Logo em seguida fomos para a cidade de Jericó. Ela fica em território palestino e é considerada a cidade mais antiga do mundo (cerca de 10.000 anos). Em Jericó, Jesus curou o cego de nascença ( o nome do cego era Bartimeu) , conforme nos narra Marcos no capítulo 10, versículo 46 a 52 e Lucas capítulo 18, versículos 35 a 43. O evangelista Mateus no capítulo 20, versículos 29 a 34, narra que Jesus não curou um cego e sim dois. Para mim se foi um ou se foram dois não tem problema, o importante é entender que Jesus é a luz da vida, que faz ver quem tem fé. Em Jericó está, também, a árvore que dizem ser a que Zaqueu (o cobrador de impostos) teria subido para ver Jesus, conforme Lucas capítulo 19 versículos 1 a 10. Após a conversão de Zaqueu, Jesus contou a parábola da espera ativa, conforme Lucas capítulo 19 versículo 11 a 28.

 

De Jericó rumamos para o Monte das Tentações. Lá, além da vista de um monte muito alto, alguns do grupo andaram de camelo. Uma moça do grupo foi pedida em casamento. Em troca receberia 150 camelos. Mas ela não aceitou, deixando comovido o coração de seu pretendente.

 

O fim da tarde nos reservou uma grande surpresa. Fomos nos hospedar num resort (Leonardo) bem de frente ao mar morto. Um lugar magnífico. Um jantar esplêndido. Pela manhã, tivemos tempo para nos banhar no mar morto, ou para os que não quiseram, poderíamos ficar no hotel aproveitando piscinas de hidro massagem, sauna, piscina com água do mar morto, ou simplesmente fazer uma caminhada. Foi um verdadeiro “oásis” no deserto de nossa peregrinação.

 

Terceiro dia:

 

Ao meio dia saímos do resort em direção à Qunram. Lá vimos uma caverna onde os arqueólogos dizem que foram encontrados os escritos do profeta Isaías (conhecidos como os escritos do Mar morto). Há indícios de que João Batista tenha morado naquela comunidade. Há, também, sítios arqueológicos espalhados por todos os lados daquele lugar. Os escritos são importantíssimos, porque seriam a prova de que as terras na região pertenceriam mesmo aos judeus israelenses (o que deixa os palestinos revoltados e questionando a autenticidade do que fora descoberto). Segundo estudiosos do evangelho de Marcos, ele teve como base a comunidade de Qunram para escrever seu evangelho. Em Qunram, almoçamos.

 

Em seguida rumamos para Jerusalém. Da estrada, continuamos vendo o deserto da judéia, onde Jesus jejuou por quarenta dias, conforme nos narra Mateus capítulo 4, versículos 1 a 11, Marcos capítulo 1, versículos 12 e 13 e Lucas capítulo 4, versículos de 1 a 13. Encontramos alguns pastores com seus rebanhos pelo deserto e vimos, também, vários acampamentos dos beduínos. Eles vivem em condições muito precárias. Segundo o guia, o governo local se oferece para retirá-los de lá, mas há uma resistência por parte deles, por desejarem continuar vivendo como seus antepassados.

 

Próximo a Jerusalém paramos em Betânia, lugar onde moravam os irmãos Maria, Marta e Lázaro que eram amigos de Jesus. Jesus sempre que ia a Jerusalém visitava seus amigos. Lucas nos fala da visita de Jesus à casa das irmãs Maria e Marta, no capítulo 10 versículos 38 a 42. Foi em Betânia, também, que Jesus ressuscitou Lázaro, conforme nos narra João, capítulo 11, versículos 1 a 57. Lá paramos para uma celebração eucarística e depois de termos lido o evangelho, refletimos sobre o sair dos nossos próprios túmulos. Alguns peregrinos partilharam a palavra e depois da missa e de algumas comprinhas, rumamos para cidade de Jerusalém.

 

Ao cair da tarde chegamos à Cidade Santa – Jerusalém. Paramos num lugar próximo ao Horto das Oliveiras para uma vista panorâmica da cidade que se despedia de mais um dia. O sol se punha no horizonte. O guia “Samuel” brindou conosco, com um único copo – de plástico – de vinho, a nossa chegada à Jerusalém.  Tiramos muitas fotos. A nossa visão foi semelhante à de Jesus que contemplou e chorou sobre a cidade, conforme nos narra Lucas no capítulo 19, versículos 41 a 44. Leiva e eu cantamos “Vá pensiero”. E dali fomos para o hotel. Nem guardei direito o nome do hotel. Só sei que não foi um dos melhores. Além das instalações um pouco simples, tínhamos que dormir com o barulho de jovens “argentinos” durante a noite.

 

Quarto dia:

 

A primeira atividade desse dia foi a visita a um museu onde se encontra a maquete de Jerusalém antiga e os escritos do Profeta Elias. Dali partimos para o território palestino onde se encontra a cidade de Belém. É um lugar de gente mais sofrida, sem dúvida alguma. Passamos pelo muro de ônibus e fomos recebidos pelo guia “Nasser” – simpático e super carismático que nos conquistou a todos.  Logo após, visitamos a Basílica da Natividade, que, como todas igrejas em Jerusalém é partilhada entre as Igrejas Católica Romana, Ortodoxa e Armênia. Na Igreja Católica celebramos a eucaristia e logo após, o guia deu um “jeitinho brasileiro” e nos passou na frente para visitar a gruta do nascimento de Jesus. Se ele não tivesse feito aquilo, teríamos ficado na fila umas duas horas. Lembramo-nos do nascimento de Jesus, narrado por Lucas capítulo 2, versículos de 1 a 7. Uma parte da igreja que era armena não chamava muito a atenção, mas tinha bem marcada lá sua presença.  Saímos da Basílica pela Igreja de Santa Catarina, dos católicos onde, na entrada existe uma bonita imagem de São Jorge.

 

Dali fomos para o Campo dos Pastores. Lugar onde os pastores receberam o anúncio dos anjos sobre o nascimento do Messias conforme nos narra Lucas capítulo 2, versículos de 8 a 20. Vimos primeiramente escavações arqueológicas com uma vista bem legal das cidades. E visitamos ali uma gruta onde os anjos cantaram “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens por ele amados”. De lá, fomos para a Igreja católica romana dos Anjos cujo teto era coberto por anjos muito bonitos. Todos esses lugares estão sob a responsabilidade da custódia franciscana da Terra Santa.

   

Chegamos no hotel por volta das 16 horas. Todos cansados. Porém felizes por podermos contemplar tão grandes maravilhas.

 

Quinto dia:

 

Iniciamos o dia rumando para o Horto das Oliveiras. Paramos numa Igreja Ortodoxa onde se encontra o suposto túmulo de Maria. Descemos muitos degraus de escada até chegarmos ao referido local, enquanto esperávamos o horário da missa que celebraríamos ali perto. A missa teve início as 09 horas da manhã, numa gruta onde, supostamente, Jesus teria dormido muitas vezes. Lá aprendemos que Jetsemani é o nome de uma prensa de olivas. O Frei franciscano Domingos nos acolheu e preparou a missa para nós. Ele é pernambucano e nos acolheu muito bem. Depois da missa fomos para a Igreja que foi construída no local onde Jesus foi traído. Chama-se Igreja das Nações.

O Jardim das Oliveiras, para o evangelista João é o novo Jardim do Éden conforme narrativa do Gênesis 2, versículos de 8 a 14. Acontece que no Jardim do Éden Adão desobedeceu a Deus e no Jardim das Oliveiras Jesus, conforme nos narra Lucas capítulo 22, versículos 39 a 45, não desobedeceu ao Pai, mas lhe disse: “… não se faça a minha vontade, mas a tua”. Jesus é o novo Adão. Adão significa primeiro homem. Jesus é o primeiro e o último, o alfa e o ômega, o princípio e o fim. À Ele o tempo e a eternidade. João escreve no capítulo 1, versículo 3b: “tudo foi feito por meio dele e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ele”.

 

Logo em seguida, partimos de ônibus para a Igreja do Pai Nosso. Lugar onde Jesus ensinou seus discípulos a orar. Lá rezamos, de mãos dadas, a oração do Senhor. Algumas freiras que encontramos lá, participaram da oração. Saímos de lá e fomos para o local da “Assenção do Senhor”, conforme narrado no livro dos Atos dos Apóstolos, Cap. 1, 6 – 11. Lá, vimos a pedra na qual Jesus pisou e dali subiu aos céus.

 

Voltamos a ver, de um mirante, Jerusalém. Tivemos, mais uma vez, a oportunidade de ter a visão panorâmica da cidade. Vimos parte do muro que cercava a cidade e o pórtico de Salomão, onde Jesus teria entrado, triunfalmente, em Jerusalém.  Os muçulmanos mandaram fechar com tijolos os portões e colocaram um cemitério na frente do portão, que, no decorrer dos anos, se estendeu por boa parte de Jerusalém. Eles acreditam que o Messias seja Maomé e que não há e nem haverá outro. O fato de terem fechado a porta e colocado um cemitério é para tornar impuro o caminho por onde passaria o suposto messias. Só que Jesus já havia entrado por ali. Os evangelistas, todos eles, narram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: Mateus capítulo 21 versículos de 1 a 11, Marcos capítulo 11, versículos de 1 a 11; Lucas, capítulo 19, versículos de 37 a 40 e João capítulo 12, versículos de 12 a 15.

 

Em seguida, vimos a Igreja onde o Senhor chorou.  Ela tem a cúpula em forma de gota e em seus quatro lados superiores tem vasos, que seriam para guardar as lagrimas de Jesus. E mais ao fundo, com umas torres douradas, a Igreja dedicada a Santa Maria Madalena.

 

Saímos dali e formos para a Igreja que está construída sobre o antigo palácio de Caifás. Hoje é a conhecida Galecanto. Lugar onde Pedro negou Jesus por três vezes antes do galo cantar. Mateus fala da negação de Pedro no Capítulo 26, versículos 69 a 75. Marcos apresenta a negação de Pedro no Capítulo 14, versículos 66 a 72.  Lucas conta no capítulo 22, versículos 54 a 62. João narra a negação de Pedro no capítulo 18, versículos de 25 a 27. Do lado externo da Igreja ainda existe parte da escada que levava ao palácio de Caifás. Escada que, com certeza, Jesus teria passado. Conta a tradição que, depois de flagelado, Jesus passou pela noite de trevas, suspenso por cordas amarradas por baixo de seus braços, num fosso escuro, no palácio de Caifás. Tivemos a oportunidade de descer no fosso e com as luzes apagadas experimentar, por alguns momentos, a escuridão que Jesus experimentou. Ali rezamos um Pai Nosso abraçados e cantamos “Perdão meu Jesus…”

 

O almoço no Restaurante “Notre Dame”, da Igreja Católica, ao preço de 20 euros, revigorou-nos para darmos continuidade na nossa jornada.

 

Do almoço, rumamos até o suposto lugar onde está enterrado o Rei Davi. E em seguida visitamos o Cenáculo.  Lá foi onde Jesus reuniu os discípulos para a Última Ceia. Os evangelistas narraram a Santa Ceia: Mateus capítulo 26 versículos 17 a 35; Marcos capítulo 14 versículos 12 a 31; Lucas capítulo 22, versículos 7 a 34; João capítulo 13, versículos 1 a 38.  Nela, ele lavou os pés dos discípulos e instituiu a Eucaristia (primeira missa). De lá, Judas saiu para traí-lo, e Jesus foi para o Monte das Oliveiras com Pedro, Thiago e João. Acredita-se que no Cenáculo tenha acontecido o “Pentecostes”, ou seja a vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos, narrada por Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículo de 1 a 13. Do Cenáculo fomos à Basílica da Dormição. Ela recebe esse nome por que os seguidores de Jesus não aceitavam a morte de Maria, pois não podiam conceber que a mãe do Senhor da Vida tivesse um fim como qualquer mortal. Daí falaram que ela dormiu e que foi elevada aos céus.  Na Basílica a imagem de Maria dormindo.

Essa tradição da dormição de Maria e de sua elevação aos céus durou até 1952 como extra-oficial na Igreja. O Papa Pio XI aceitou como dogma de fé a assunção de Nossa Senhora. Até então a fé estava “apenas” no coração dos cristãos.

 

Na Basílica da Dormição foi emocionante sairmos cantando a Consagração à Maria e encontrarmos um grupo de brasileiros que reforçaram o nosso coro, cantando também. Depois fomos liberados para as compras em Jerusalém.

 

Sexto dia:

 

Logo cedo fizemos uma caminhada até o Portal dos leões, entrando para a chamada Jerusalém velha. Chegamos até a Igreja de Sant`Ana. No Portal dos Leões, o guia contou-nos uma passagem (apócrifo) sobre o encontro de Joaquim e Ana, a partir do qual nasceu Maria.

 

Ao lado da Igreja de Sant’Ana, vimos as ruínas da piscina de Betesda, lá ficavam os doentes esperando a passagem do anjo que, conforme João capítulo 5, versículo 2 a 9, passava de vez em quando e agitava as águas. Ali Jesus teria feito o milagre da cura do paraplégico. Na igreja de Sant`Ana, descemos e encontramos o local  que teria sido a casa de Maria. De lá, começamos a via Sacra num Portal que consideram como a fortaleza de Pilatos. A segunda e a terceira estações da via sacra foram feitas em duas igrejas, onde vimos os jogos dos soldados no chão (é algo ainda preservado, e muito impressionante). Eles lançaram sorte sobre as vestes de Jesus conforme nos narra João capítulo 19, versículos 23 e 24.

 

Vimos também na Via Sacra uma pedra em que Jesus teria colocado a mão numa de suas quedas. De tanto as pessoas tocarem essa pedra, está afundando o local das mãos. A quarta estação, em que Maria encontra com Jesus, fica na porta de uma igreja Armena. A sexta estação está fora do curso que seria normal de uma caminhada num único sentido. A Via Sacra está bem dentro do cotidiano das pessoas. Ao seguirmos-na, passamos por muitos comércios, casas, e outras normalidades do dia-a-dia – bem diferente do que a maioria pensa, pois muitos acreditam que o caminho estaria todo protegido, ou que passaria por montanhas até chegar ao Gólgota.

 

Curiosidade: Na verdade Jesus carregou a cruz para fora dos muros da cidade, pois os condenados não eram crucificados dentro da cidade. Era fora. Mateus fala que saíram para crucificar Jesus no capítulo 27, versículos de 32 a 44. Marcos fala do lugar ao qual levaram Jesus para ser crucificado, no capítulo 15, versículo 22 a 32. Lucas fala do “lugar chamado caveira” no capítulo 23, versículos 33 a 38.  João nos fala no capítulo 19, versículos 17 e 18. Não se crucificava dentro da cidade para que os habitantes não se tornassem impuros.

 

Chegamos  à Basílica do Santo Sepulcro. Ela também é dividida e pertence a diferentes igrejas cristãs. A parte que contém a pedra que se rachou com a martelada do prego para crucificar Jesus pertence aos católicos ortodoxos. Tivemos a oportunidade de tocar com a mão na rachadura da pedra.  Há outra parte que pertence aos armênios. Há também na entrada da Basílica uma pedra perfumada que teria sido usada para colocar o corpo de Jesus para o embalsamento. Encontramos essa prática de embalsamento em João capítulo 19, versículos 38 a 40. Essa pedra é muito tocada e beijada pelas pessoas, de modo a absorverem o seu perfume. Em outra parte, há a sepultura (o túmulo da ressurreição), com ornamentos interessantíssimos, com acesso controlado também pelos católicos ortodoxos (eles são bem bravos e xingam sem parar para as pessoas fazerem silêncio e não usarem vestimentas inadequadas). Foi lá que ficamos 3 horas em pé, esperando acabar, e nunca acabava, uma missa dos Armenos. Muitos seminaristas e padres revezavam cantos gregorianos e o Arcebispo deles, com um sapato bem bordado, cheio de pompas, desfilava enquanto era incensado pelos seus acólitos.  

O santo sepulcro encontra-se narrado nos quatro evangelistas, a saber: Mateus capítulo 27 versículo 60;  Marcos capítulo 15, versículos 45 e 46; Lucas capítulo 23 versículos de 50 a 56; João capítulo 19, versículos 41 e 42.

 

Os católicos romanos, representados pelos franciscanos, ocupam um lugar privilegiado na basílica. Em todas as tardes, às 4 horas, acontece uma procissão dos franciscanos em que eles incensam todos os altares de toda a basílica, com isso garantem a permanência deles lá, impedindo assim que os gregos tomem o seu lugar. A procissão dura 1h30min. Quem construiu a Basílica foi a mãe de Constantino. Seu nome era Helena. Como foi santificada, passamos a existir então a Santa Helena. Naquele local, Helena encontrou as 3 cruzes do dia da crucificação. Como ela não sabia qual seria a de Jesus, resolveu então levá-las a um enfermo. Dizem que a cruz que seria de Jesus curou o enfermo, daí Helena descobriu o que queria. No local que seria o do descobrimento das cruzes há hoje uma capela de Santa Helena, dentro da Basílica do Santo Sepulcro.

 

A Basílica, construída no século IV, passou por um processo de reconstrução no século XVI. Hoje, podemos ver em seu interior traços dos dois períodos. Diferentes grupos religiosos católicos romanos são autorizados a celebrar por 50 minutos no interior da Basílica.  

 

Dali fomos para o muro das lamentações. No ano 70 d.C, o templo de Jerusalém foi destruído, assim como grande parte da cidade. Jesus profetizou sobre a destruição do templo. Lucas narra isso no capítulo 21, versículos de 5 a 11. Sobrou parte do muro do templo que é o chamado “Muro das Lamentações”. Lá, os judeus se encontram para rezar a Javé e a lamentar a destruição do Templo. Muitos deixam bilhetes enrolados nas frestas do muro, na esperança de serem atendidos por Javé. O lugar das mulheres é separado do dos homens diante do muro. Ao término da oração o judeu não dá as costas para o muro, sai andando de costas. Diante do muro há vários grupos de judeus que se reúnem para estudar e debater a Sagrada Escritura. Sempre orientados por um mestre, os discípulos participam de um aprofundamento na Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) usado pelos Judeus.

 

Depois do muro das lamentações fomos almoçar e visitar o museu do holocaustro. O museu Yad Vashem é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto. Construído numa estrutura de um prisma triangular, o museu talvez tenha sido para muitos uma das experiências mais marcantes de toda a viagem.  Em seu interior, há diferentes salas de exposição (com uma passagem principal triangular que une todas elas), cada uma dedicada a um capítulo diferente da história do Holocausto. As mostras estão organizadas cronologicamente, com testemunhos, objetos pessoais, artefatos e apresentações multimídia com a participação de sobreviventes. Há também no Yad Vashem homenagens aos não-judeus que arriscaram a vida, liberdade ou posição para salvar judeus durante o Holocausto.

 

Em função da perplexidade com os acervos vistos da tragédia que se abateu sobre o povo judeu durante a Segunda Guerra, é difícil não ficar emocionalmente abalado com tudo aquilo que vai sendo progressivamente exposto no interior do museu. O próprio silêncio que involuntariamente permanece pelas salas acaba servindo como catalisador desse abalo. Além de dor, raiva e indignação, certamente deve residir no pensamento de cada visitante uma vergonha de pertencer à mesma humanidade responsável por tamanha barbárie.

 

Um salão no final do novo museu concentra os nomes de todas as vítimas do Holocausto que chegaram ao conhecimento do Yad Vashem. Há na parte superior do salão uma abóboda circular contendo diversas fotos das vítimas entregues por seus familiares. O salão também inclui um banco de dados acessível no local (e também pela Internet), como uma ferramenta para ajudar na investigação histórica e na pesquisa pelos familiares das vítimas. A saída da exposição principal do museu termina num mirante com uma vista das montanhas a oeste de Jerusalém. Essa arquitetura com a parte mais larga do triângulo, de que formado o prédio do museu, voltada para oeste de Jerusalém significa a porta pela qual todo judeu exilado deve entrar para se abrigar junto ao seio de Sião. A esperança pela volta dos exilados data de 530 a.C., quando do exílio da Babilônia, conforme podemos ver no Salmo 137 (136). Esse retorno, para o judeu, é obra de Javé, e que, também, por isso deve ser louvado, conforme podemos ver o Salmo 147 (146-147).

“Aleluia!

Louvem a Javé, pois é bom cantar.

O nosso Deus merece harmonioso louvor.

Javé reconstrói Jerusalém, reunie os exilados de Israel.

Cura os corações despedaçados e cuida dos seus ferimentos.

Ele conta o número das estrelas e chama cada uma pelo nome.

Nosso Senhor é grande e poderoso, e sua sabedoria é sem medida.

Javé sustenta os pobres e rebaixa os injustos até o chão.

Entoem o agradecimento a Javé, cantem ao nosso Deus com a harpa…”

 

De volta ao hotel, recebemos, do guia, o Certificado de Peregrino de Jerusalém. Assim terminamos nossa jornada na terra de Jesus. Um término que nos faz sentir que é um princípio. Princípio de uma nova caminhada. Pois, sabemos todos, não voltamos às nossas casas, às nossas vidas, como fomos. Algo mudou. Algo nos tocou a fundo. A simplicidade de tudo que contemplamos convida-nos a amadurecer em nós a fé e a opção, cada vez mais forte, num Jesus humano que nos revelou, na sua humanidade, o Divino que o enviou a nós.

Deus ilumine a todos e nos ajude a dar continuidade à sua missão. Muito Obrigado.

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